sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Sartre e o Nada.



Por Edvaldo Ramos Leite


[Sartre em; O ser e o nada, ou qual quer bobagem dessas, eu não me importo eu não ligo!
Ensaio ontológico sobre a tensão argumentativa noturna nos ante – Sartreanos e etc.etc. e tal.]

É madrugada. A poeira das revistas e livros antigos faz descer do meu nariz um tipo de catarro engraçado que brilha bonito. É mais viscoso que os catarros normais e observo sua lenta descida até o pano de chão que arrumei para apará-lo.

Enquanto vejo esta bela secreção sair de dentro de mim, penso em como é difícil juntar umas letrinhas pra dizer as coisas nas quais acreditamos. Assim, sem parecer nem menos do que você é. “What is it you want to change?” (o que é que você quer mudar?). Aposto que, toda vez que as letrinhas teimam em sair da sua cabeça você pensa nessa frase e ela se repete exaustivamente ai dentro.

Sartre repousa pesadamente sobre minha mesa, no interior das mais de quinhentas páginas de “O Ser e o Nada”, que eu não sei se vou ler (provavelmente não, o que você acha?). Conforta-me a ideia de que talvez Sartre também não soubesse o que “O Ser e o Nada” mudaria. Conforta-me ainda mais a certeza de que, mesmo que eu quisesse, não me meteria a escrever mais de quinhentas páginas e ainda assim não saber o que muda depois de tudo.

Acho que não é muito adulto brincar de elevador com o próprio catarro. Mas sei lá, a filosofia, pelos mesmos motivos, também não é muito adulta. Cada um defende aquilo em que acredita.

Eu acredito no catarro. Você pode acreditar em Sartre ou no seu catarro. O fato é que, tudo que preciso é de um lenço! Para Sartre, conseguir umas letrinhas era bem mais fácil do que é pra gente (será?). E que diferença faz? Bem, não há nenhuma diferença entre Sartre e eu, a não ser a de que ele precisaria de zilhões de argumentos para explicar que o meu catarro existe, enquanto eu simplesmente sei que ele existe.

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