Por Carlos Alberto Nascimento
O Medo
“Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado?”
Lobão
“Em que festa eu serei a despedida?
Em que caminho eu serei o meu atalho?”
José Telles
Onde permaneço em um lugar que mal conheço?
Em que coração habito sem saber que ali fui colocado?
Em que olho estou para ser observado?
Em que poema existo sem saber que ali fui escrito?
Em que quadro vivo sem saber que ali fui pintado?
De que lado estou no qual a escuridão me habita dia e noite?
Que sofrimento sou que coroe algum peito?
Que paixão sou sem sabe que acabei despertando?
E que vida é essa que por mim ainda não foi encontrada?
Um Vampiro Nas tardes Ociosas
Separado por um tempo
Que escore por ponteiros de um relógio
[morto
Atravessando uma tarde de sol negro
Que torna meus olhos escuros,
Caminho pelo dia
Sem grandes preocupações.
Respirando ar cinza
Que deforma minhas narinas e pulmões
Observando as ruínas da cidade,
Percebo
Que os prédios caminham devagar ao meu lado
Junto com o asfalto
Que vagarosamente dissolve-se
E flutua para o céu
Onde futuramente derramará lágrimas que deformará
[minha fase.
Observando a adolescência da tarde,
Percebo que sou um bruto
Em relação às horas
E aos ponteiros do relógio,
Que vagarosamente se mantém distraído
Observando meu cansaço
E meus medos
Em relação à vida.
O Dia Entre Dois Fios do Telefone
Pessoas andam por ruas com os olhos fechados
Como uma marcha sega de sonambulismo,
Carros transformados em armas vagam em pistas
E o sol queima a pele de quem caminha.
A música toca alto no rádio do vizinho
Falando sobre amor e outras tristezas
Sem preocupações sobre o futuro da nação
Ou homens que sentem fome.
Folhas caídas de árvores queimam em pleno meio dia
Misturando-se e sendo transformadas em lixo
O gari que limpa as ruas fala e reclama;
“Que sujeira essa cidade!”
E mentalmente agradece a Deus o emprego que tem.
Generais sentados em cadeiras acolchoadas
Em salões redondos e gigantes com ar refrigerado
Conversam sobre como os tempos estão tediosos,
Então se põem a discutir refletir e planejar
A destruição de um país ou dois
Para matar tempo, tédio, cultura e pessoas.
O dia transcorre normal
Entre os dois fios do telefone.
Do Ato de Falhar
A tarde deita sobre mim
E me sinto incomodado
Com o abraço que o sol me dá,
Folhas verdes
De árvores negras acenam,
Eu nunca respondo por que sou tímido.
Jovens caminham olhando para o horizonte
Moças passam insinuando-se
E eu grito me orgulhando
Por falhar em um poema.
"Observando meu cansaço
ResponderExcluirE meus medos
Em relação à vida."